Todos estamos conscientes que as emissões de CO2 têm grande impacto nas alterações climáticas que estão a afetar o planeta, A necessidade imperiosa de reduzir as emissões dos veículos tem levado à procura de “energias limpas” e a utilização de veículos com tração elétrica é a solução que mais se tem afirmado nos últimos anos.
Conhecidos pelas “emissões zero”, os veículos elétricos
são considerados “amigos do ambiente”. E este é
cada vez mais um argumento decisivo na aquisição de
um novo veículo. A preocupação com as emissões tem
vindo a aumentar e a prova disso está no volume de
vendas que os elétricos têm registado. A restrição de
circulação nas conhecidas “zonas de emissões reduzidas”
em alguns centros de cidades europeias é também
um argumento convincente na hora da decisão.
E não é só a redução de emissões que torna estes veículos
apelativos já que a experiência de condução
também é evidente: A capacidade de resposta dos
motores elétricos que garantem um bom desempenho
na aceleração, a disponibilidade de binário máximo
desde o arranque, uma dinâmica de condução mais
estável fruto de um centro de gravidade mais baixo (as baterias situam-se habitualmente debaixo do piso
de habitáculo), as potencialidades da travagem regenerativa
para o aproveitamento energético, que possibilitam
poupar e recarregar energia em andamento,
são apenas algumas das razões que fazem com que
estes veículos tenham um comportamento mais suave
e tranquilo, que contribui para a diminuição da probabilidade
de acidentes.
Os veículos elétricos têm uma constituição mais simples
do que os veículos a combustão (pode incluir
entre 800 e 1000 peças a menos) resultando numa
menor necessidade de intervenções de manutenção.
O motor tem menos componentes e não há necessidades
de mudança de óleo ou de substituição de correias
de distribuição. Travões, filtros, correias, ou outras
peças, têm menor desgaste, o que se traduz num menor
custo de manutenção e num maior intervalo entre
revisões se comparados com veículos movidos a combustíveis
fósseis.
Mas serão os VE assim tão amigos do ambiente? Não
há dúvidas de que o seu impacto ambiental é muito
inferior ao dos veículos a combustão, mas as questões
sobre a poluição provocadas pelo fabrico de baterias
e seu tratamento em fim de vida são legítimas. A autonomia
limitada, o tempo de carregamento e o reduzido
número de postos de carregamento da rede
pública e o preço mais elevado, são algumas das desvantagens
apontadas.
E claro que a existência de legislação que impõe
objetivos cada vez mais restritivos às emissões
poluentes tem tido uma grande influência na oferta
de soluções colocadas à disposição dos consumidores.
Desde 1998 a Comissão Europeia (CE) tem estabelecido
objetivos de redução das emissões de CO2
nas viaturas novas através diferentes normas Euro. A
próxima norma Euro 7 é mais abrangente dado que
além das emissões poluentes, vai considerar também
limites para emissões de partículas dos travões, de microplásticos
dos pneus, regular a durabilidade das baterias
e tirar partido das tecnologias digitais. As regras
Euro 7 pretendem garantir que os veículos não sejam
adulterados e que as emissões possam ser facilmente
controladas pelas autoridades, utilizando sensores no
interior do veículo para medir as emissões ao longo
da vida útil do veículo.
Os fabricantes têm vindo a adaptar-se, disponibilizando
um cada vez maior nº de soluções à disposição
do consumidor e que se adequam ao estilo de condução
ou aos percursos que o condutor adota no seu
dia a dia. A “eletrificação” dos veículos tem vindo a
incrementar-se nas últimas décadas com uma enorme
diversidade de níveis de “eletrificação” a coexistir
no mercado: micro híbridos, híbridos HEV (Hybrid
Electric Vehicle), híbridos plug-in PHEV (Plug-in
Hybrid Electric Vehicle), elétricos com extensor de
autonomia (BEVx), aos 100% elétricos BEV (Battery
Electric Vehicle).
Em 2023 e apenas de janeiro a setembro, os veículos
eletrificados e elétricos corresponderam a 44% do
total de vendas de veículos em Portugal. E, considerando
que no próximo ano se retoma o programa de
incentivo ao abate de automóveis ligeiros em fim de
vida abrangendo o abate de cerca de 45 mil veículos, é
expectável um incremento ainda maior em 2024, das
novas matrículas de veículos com propulsão elétrica.
E esta é uma situação desafi ante para as ofi cinas de
reparação. Apesar do nº total de veículos elétricos e
eletrifi cados ser ainda reduzido no parque automóvel
português, a maioria dos técnicos de mecatrónica automóvel
já teve de lidar com BEV’s, HEV e PHEV nos
seus locais de trabalho. A diversidade de componentes
e a própria tipologia de funcionamento deste tipo
de veículos é um desafi o para os profi ssionais. E não
podemos esquecer que estes são veículos que funcionam
com sistemas de alta tensão.
Intervir em veículos híbridos e elétricos é um segmento
de negócio que se irá expandir. A médio prazo
esta será mesmo uma questão de sobrevivência para
as ofi cinas. A mobilidade elétrica está a obrigar a rever
modelos de negócio e a alterar os processos de trabalho.
a as ofi cinas que se prepararem atempadamente
terão com certeza vantagens competitivas sobre as
restantes.
Quando se efetuam trabalhos em veículos equipados
com alta tensão, há sempre riscos elétricos sob a forma
de choques elétricos ou arcos voltaicos. Contactos
acidentais com componentes em carga ou com
massas que fi quem acidentalmente sob tensão podem
ser fatais. É por isso muito importante garantir uma
qualifi cação adequada dos técnicos que realizam intervenções
neste tipo de veículos, e o cumprimento
rigoroso dos procedimentos técnicos e de segurança
defi nidos pelos fabricantes para cada modelo de veículo
elétrico ou híbrido.
Para além da qualifi cação dos técnicos que realizam as
intervenções, os espaços de trabalho nas ofi cinas e os
equipamentos e ferramentas disponíveis devam garantir
as adequadas condições de operação, não esquecendo
a proteção individual dos operadores. As condições
mínimas que as ofi cinas devem assegurar para intervenções
em veículos com alta tensão incluem:
• Sinalização dos veículos e das áreas de trabalho com placas indicativas de manutenção em sistema elétrico
de alta potência, além de uso de cordão e/ ou fita de
isolamento do perímetro (dependendo da operação a
realizar no veículo elétrico e híbrido, será necessário
desligar com segurança o sistema de alta tensão).
• Equipamentos de proteção adequados para intervenções
em alta tensão.
• Equipamentos e ferramentas com isolamento adequado
(1000 V) para intervenções em veículos elétricos.
Necessidade de qualificação dos técnicos
para intervenções em veículos com alta
tensão
Desde 2017, o CEPRA implementou um total de 298
ações de formação dedicadas a veículos com alta tensão,
nas modalidades presencial e/ou à distância. Estas
ações decorreram em diversas localidades do país,
abrangendo um total de 3890 participantes.
Embora ainda não exista legislação em Portugal que
regule esta atividade, países como a França ou a Alemanha
já disponibilizaram regulamentação específica
para estas intervenções e os próprios fabricantes de
veículos definem para os seus representantes as qualificações
que consideram necessárias para intervenções
em segurança nestes veículos.
Uma das regulamentações mais consensuais é a definida
pela norma alemã (DGUV 209-093) que identifica
quatro níveis de qualificação:
• Pessoa informada (não qualificada)
• Pessoa instruída em eletricidade (pessoa com qualificação
em veículos elétricos)
• Técnico de alta tensão (pessoa qualificada para trabalhar
em instalações de alta tensão em estado de repouso)
• Técnico especialista em alta tensão (pessoa qualificada
para trabalhar em instalações de alta tensão em
estado ativo)
O CEPRA tem em curso a atualização da sua oferta
formativa para responder ao determinado pela norma
alemã. Os novos cursos serão disponibilizados ainda
em 2023.