... Edição Digital 391

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TÉCNICO - Intervenções em veículos híbridos e elétricos Preparar bem a oficina é meio caminho andado Por: CEPRA Fotos: CEPRA

Todos estamos conscientes que as emissões de CO2 têm grande impacto nas alterações climáticas que estão a afetar o planeta, A necessidade imperiosa de reduzir as emissões dos veículos tem levado à procura de “energias limpas” e a utilização de veículos com tração elétrica é a solução que mais se tem afirmado nos últimos anos.

Conhecidos pelas “emissões zero”, os veículos elétricos são considerados “amigos do ambiente”. E este é cada vez mais um argumento decisivo na aquisição de um novo veículo. A preocupação com as emissões tem vindo a aumentar e a prova disso está no volume de vendas que os elétricos têm registado. A restrição de circulação nas conhecidas “zonas de emissões reduzidas” em alguns centros de cidades europeias é também um argumento convincente na hora da decisão.
 
E não é só a redução de emissões que torna estes veículos apelativos já que a experiência de condução também é evidente: A capacidade de resposta dos motores elétricos que garantem um bom desempenho na aceleração, a disponibilidade de binário máximo desde o arranque, uma dinâmica de condução mais estável fruto de um centro de gravidade mais baixo (as baterias situam-se habitualmente debaixo do piso de habitáculo), as potencialidades da travagem regenerativa para o aproveitamento energético, que possibilitam poupar e recarregar energia em andamento, são apenas algumas das razões que fazem com que estes veículos tenham um comportamento mais suave e tranquilo, que contribui para a diminuição da probabilidade de acidentes.
 
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Os veículos elétricos têm uma constituição mais simples do que os veículos a combustão (pode incluir entre 800 e 1000 peças a menos) resultando numa menor necessidade de intervenções de manutenção.
 
O motor tem menos componentes e não há necessidades de mudança de óleo ou de substituição de correias de distribuição. Travões, filtros, correias, ou outras peças, têm menor desgaste, o que se traduz num menor custo de manutenção e num maior intervalo entre revisões se comparados com veículos movidos a combustíveis fósseis.
 
Mas serão os VE assim tão amigos do ambiente? Não há dúvidas de que o seu impacto ambiental é muito inferior ao dos veículos a combustão, mas as questões sobre a poluição provocadas pelo fabrico de baterias e seu tratamento em fim de vida são legítimas. A autonomia limitada, o tempo de carregamento e o reduzido número de postos de carregamento da rede pública e o preço mais elevado, são algumas das desvantagens apontadas.
 
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E claro que a existência de legislação que impõe objetivos cada vez mais restritivos às emissões poluentes tem tido uma grande influência na oferta de soluções colocadas à disposição dos consumidores.
 
Desde 1998 a Comissão Europeia (CE) tem estabelecido objetivos de redução das emissões de CO2 nas viaturas novas através diferentes normas Euro. A próxima norma Euro 7 é mais abrangente dado que além das emissões poluentes, vai considerar também limites para emissões de partículas dos travões, de microplásticos dos pneus, regular a durabilidade das baterias e tirar partido das tecnologias digitais. As regras Euro 7 pretendem garantir que os veículos não sejam adulterados e que as emissões possam ser facilmente controladas pelas autoridades, utilizando sensores no interior do veículo para medir as emissões ao longo da vida útil do veículo.
 
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Os fabricantes têm vindo a adaptar-se, disponibilizando um cada vez maior nº de soluções à disposição do consumidor e que se adequam ao estilo de condução ou aos percursos que o condutor adota no seu dia a dia. A “eletrificação” dos veículos tem vindo a incrementar-se nas últimas décadas com uma enorme diversidade de níveis de “eletrificação” a coexistir no mercado: micro híbridos, híbridos HEV (Hybrid Electric Vehicle), híbridos plug-in PHEV (Plug-in Hybrid Electric Vehicle), elétricos com extensor de autonomia (BEVx), aos 100% elétricos BEV (Battery Electric Vehicle).
 
Em 2023 e apenas de janeiro a setembro, os veículos eletrificados e elétricos corresponderam a 44% do total de vendas de veículos em Portugal. E, considerando que no próximo ano se retoma o programa de incentivo ao abate de automóveis ligeiros em fim de vida abrangendo o abate de cerca de 45 mil veículos, é expectável um incremento ainda maior em 2024, das novas matrículas de veículos com propulsão elétrica.
 
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E esta é uma situação desafi ante para as ofi cinas de reparação. Apesar do nº total de veículos elétricos e eletrifi cados ser ainda reduzido no parque automóvel português, a maioria dos técnicos de mecatrónica automóvel já teve de lidar com BEV’s, HEV e PHEV nos seus locais de trabalho. A diversidade de componentes e a própria tipologia de funcionamento deste tipo de veículos é um desafi o para os profi ssionais. E não podemos esquecer que estes são veículos que funcionam com sistemas de alta tensão.
 
Intervir em veículos híbridos e elétricos é um segmento de negócio que se irá expandir. A médio prazo esta será mesmo uma questão de sobrevivência para as ofi cinas. A mobilidade elétrica está a obrigar a rever modelos de negócio e a alterar os processos de trabalho. a as ofi cinas que se prepararem atempadamente terão com certeza vantagens competitivas sobre as restantes.
 
Quando se efetuam trabalhos em veículos equipados com alta tensão, há sempre riscos elétricos sob a forma de choques elétricos ou arcos voltaicos. Contactos acidentais com componentes em carga ou com massas que fi quem acidentalmente sob tensão podem ser fatais. É por isso muito importante garantir uma qualifi cação adequada dos técnicos que realizam intervenções neste tipo de veículos, e o cumprimento rigoroso dos procedimentos técnicos e de segurança defi nidos pelos fabricantes para cada modelo de veículo elétrico ou híbrido.
 
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Para além da qualifi cação dos técnicos que realizam as intervenções, os espaços de trabalho nas ofi cinas e os equipamentos e ferramentas disponíveis devam garantir as adequadas condições de operação, não esquecendo a proteção individual dos operadores. As condições mínimas que as ofi cinas devem assegurar para intervenções em veículos com alta tensão incluem:
 
• Sinalização dos veículos e das áreas de trabalho com placas indicativas de manutenção em sistema elétrico de alta potência, além de uso de cordão e/ ou fita de isolamento do perímetro (dependendo da operação a realizar no veículo elétrico e híbrido, será necessário desligar com segurança o sistema de alta tensão).
 
• Equipamentos de proteção adequados para intervenções em alta tensão.
 
• Equipamentos e ferramentas com isolamento adequado (1000 V) para intervenções em veículos elétricos.
 
Necessidade de qualificação dos técnicos para intervenções em veículos com alta tensão
 
Desde 2017, o CEPRA implementou um total de 298 ações de formação dedicadas a veículos com alta tensão, nas modalidades presencial e/ou à distância. Estas ações decorreram em diversas localidades do país, abrangendo um total de 3890 participantes.
 
Embora ainda não exista legislação em Portugal que regule esta atividade, países como a França ou a Alemanha já disponibilizaram regulamentação específica para estas intervenções e os próprios fabricantes de veículos definem para os seus representantes as qualificações que consideram necessárias para intervenções em segurança nestes veículos.
 
Uma das regulamentações mais consensuais é a definida pela norma alemã (DGUV 209-093) que identifica quatro níveis de qualificação:
 
• Pessoa informada (não qualificada)
 
• Pessoa instruída em eletricidade (pessoa com qualificação em veículos elétricos)
 
• Técnico de alta tensão (pessoa qualificada para trabalhar em instalações de alta tensão em estado de repouso)
 
• Técnico especialista em alta tensão (pessoa qualificada para trabalhar em instalações de alta tensão em estado ativo)
 
O CEPRA tem em curso a atualização da sua oferta formativa para responder ao determinado pela norma alemã. Os novos cursos serão disponibilizados ainda em 2023.


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