Nuno Zigue, CEO do Banco Santander Consumer Finance, considerada considerada pela revista Fortune uma das 50 empresas que mais contribuem para um mundo melhor, dá-nos a sua análise do atual estado do sector financeiro, sustentabilidade e ESG.
Que trabalho tem sido feito pelas financeiras no âmbito
da sustentabilidade, numa lógica ESG? Que importância
atribuem hoje a este conceito?
No nosso entender, o sector financeiro tem um papel relevante
na resolução de alguns dos desafios com os quais se
confronta a sociedade. Ao longo dos anos, o grupo Santander
tem vindo a promover iniciativas concretas que contribuem
para a transição energética, para a inclusão social
e financeira e para um modelo de governo responsável e
ético. Recentemente, a revista Fortune reconheceu o Santander
como uma das 50 empresas que tem ativamente
contribuído para um mundo melhor, destacando os nossos
programas nos domínios da educação, do empreendedorismo
e da empregabilidade, que já ajudaram mais de
um milhão de pessoas e negócios em vários países. Nesse
âmbito, e a título de exemplo, o Santander Consumer
Finance Portugal, em parceria com o Banco Europeu de
Investimento, disponibiliza soluções de financiamento a
baixo custo para pequenas e médias empresas, profissionais
liberais e empresários em nome individual, destinadas
à renovação da respetiva frota automóvel por veículos,
ligeiros ou pesados, com elevada eficiência energética e
baixas emissões CO2. É mais um exemplo da participação
do sector financeiro nas políticas ambientais e sociais das
instâncias governamentais, neste caso da União Europeia.
"O grupo Santander tem
vindo a promover iniciativas
concretas que contribuem
para a transição energética,
para a inclusão social
e financeira e para um
modelo de governo
responsável e ético"
Quais as expectativas para o comportamento das taxas de juro e que consequências, no curto e no médio prazo,
podem trazer aos vários stakeholders envolvidos no
processo?
Para abordarmos o comportamento das taxas de juro temos
de encarar o problema subjacente, que é a inflação. As
sociedades do chamado mundo ocidental já não estavam
habituadas a viver com uma inflação anual superior a 2%.
A recente subida dos preços, tendo sido tão ampla e tão repentina,
provocou efeitos negativos imediatos no poder de
compra, sobretudo das pessoas e famílias mais vulneráveis.
Se a instabilidade de preços for duradoura, os seus efeitos
nefastos poderão afetar gravemente a estabilidade social da qual dependem as democracias e o normal funcionamento
da economia. Por isso, é do interesse de todos que as taxas
de juro subscritas pelos consumidores subam na mesma
medida que as taxas diretoras do BCE, para que a contenção
da inflação ocorra. Em Portugal, os limites de usura
começaram a subir em 2023, após se terem mantido estáveis
ao longo do ano de 2022. O que significa que o ajuste
do custo do crédito automóvel intermediado está a ocorrer
com cerca de um ano de desfasamento relativamente às
decisões do BCE. Na ótica dos consumidores, trata-se de
um regresso aos níveis de taxa de juro que já conhecemos
no passado. Na ótica dos intermediários de crédito, a subida
gradual dos limites de usura está a criar espaço para o
incremento das taxas dos clientes, garantindo desta forma
a preservação das margens de intermediação.
Numa atividade que se baseia em operações estritamente
comerciais e na variação das taxas de juro, de que forma
se destacam?
No nosso negócio, são vários os fatores de diferenciação,
para além do preço. Refiro alguns que me parecem relevantes:
o bom, a rapidez e simplicidade de processos, a digitalização
da jornada de contratação, uma calibração de
políticas de riscos que garanta um crescimento sustentável
do negócio, produtos que respondam às aspirações dos
diferentes tipos de clientes, soluções de financiamento das
necessidades dos parceiro e os mecanismos de fidelização
dos clientes aos parceiros, tanto no que diz respeito às vendas
como ao pós-venda. E, tão ou mais importante, uma
equipa de especialistas que oferece aos profissionais do setor
automóvel um ecossistema de soluções integradas que
cobrem as diferentes etapas do negócio.
De que forma prevê que os novos modelos de distribuição
na venda de carros novos podem influenciar
a atividade das empresas financeiras?
Os modelos dos construtores não se assemelham integralmente,
nomeadamente na forma de organizar a cadeia de
distribuição e na forma como se estabelecerá a relação com
o cliente. Essas especificidades serão determinantes para a
definição do papel das financeiras “cativas” e do modo de
competição no seio deste canal. Independentemente dessas
evoluções, é certo que os clientes continuarão a necessitar
de serviços financeiros e de soluções de mobilidade,
tal como é certo que o comércio automóvel continuará a
oferecer aos seus clientes um serviço one-stop-shop, que
integrem soluções de pagamento, de financiamento e de
mobilidade. As instituições financeiras saberão seguramente
adaptar-se à mudança, mitigando os riscos e aproveitando
as oportunidades.
Que importância considera terem organismos como
a ANECRA e, em concreto, eventos como o Encontro
Nacional dos Usados, em junho último, ou a Convenção
Anual da ANECRA?
As associações profissionais têm um papel extremamente
importante, tanto na difusão de conhecimento e de boas
práticas junto dos associados, como na representação dos interesses
do sector junto das autoridades e de outros sectores.
As convenções e os encontros promovidos pela ANECRA
são oportunidades únicas para expor temas e promover
debates que contribuam para o desenvolvimento do sector.
Simultaneamente, são eventos de reconhecida qualidade,
que projetam uma imagem de profissionalismo junto do
público. Parabéns à ANECRA pela sua realização.