... Edição Digital 391

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ENTREVISTA - Nuno Castel-Branco, CEO, Standvirtual O digital não é mais uma novidade Por: Mónica Silva

Nuno Castel-Branco é um nome muito conhecido no sector automóvel em particular por dirigir uma marca que é das maiores referências do Sector Automóvel Português. Este ano estará de volta uma vez mais à Convenção da ANECRA para partilhar o seu seu profundo know-how. Nesta entrevista, procurámos saber que avaliação faz do mercado atual e da sua previsão para o futuro do mesmo.

Quais são as prioridades no mercado automóvel? O que ainda falta fazer a nível político ou privado ou, até, associativo?
 
Acima de tudo, o mercado automóvel demonstra um dinamismo e resiliência impressionante, uma consequência dos bons intervenientes que atuam nesta área, em Portugal. Embora ainda haja temas para resolver, até porque a inovação não pára e isso traz consigo novos desafios todos os anos, é importante termos noção do trabalho competente que tem sido feito por todos os profissionais.
 
No entanto, respondendo diretamente à pergunta, diria que uma maior coordenação entre associações só iria beneficiar o sector. Um alinhamento forte iria reforçar a influência junto do Governo e trazer resultados para o mercado nacional. Dando apenas um exemplo, hoje em dia nenhuma casa se compra sem alguns certificados que comprovam o estado do imóvel.
 
No mercado automóvel, sentimos que ainda falta algum deste mesmo critério nas transferências de propriedade para proteger o consumidor, mas também o profissional que trabalha com base na transparência.
 

 
A dinâmica de mercado está hoje alterada comparativamente aos últimos anos, com uma oferta acima da média face à procura. Como podemos antecipar 2024 em relação aos novos e usados?
 
Em relação aos usados, parece-me consensual que os preços vão cair, muito consequência dessa mesma dinâmica de mercado, com mais oferta do que procura, e com algum produto a atingir dias em parque muito acima do habitual, que por si só gera a necessidade de serem vendidos rapidamente. Os operadores vão começar a ter stocks mais curtos, uma vez que vão precisar de mais tempo para vender um carro e focar nos carros com preços mais acessíveis ao consumidor, porque têm um menor “market days supply” ou seja, um menor tempo estimado de venda. A importação deverá baixar para os níveis de 2019, uma vez que temos novamente a oferta nacional estável, no entanto, estes três anos de muita importação abriram novas parcerias, o que nos leva a acreditar que alguns operadores ainda mantenham este canal ativo. Os elétricos usados vão ter a sua procura a abrandar, porque continuam com preços elevados e porque é onde existem as reduções de preço mais agressivas em novos. Contudo, esperamos mais oferta disponível, muito através das empresas de gestão de frotas. Em relação aos novos, em primeiro lugar, temos de perceber que as vendas em 2023 não representam a realidade da procura, isto porque os números foram inflacionados pelas encomendas dos anos anteriores. Assim, não podemos ser tão otimistas e imaginar que a tendência manter-se-á em 2024. Espera-se uma redução de conversão e o regresso de descontos mais elevados. Os eletrificados já representam 50% e espera-se que a tendência se mantenha. Por último, o mercado será suportado pelo lado empresarial, frotas e RAC, com os particulares a representarem provavelmente menos de 20% das vendas totais.
 

 
O Standvirtual vive no digital. Qual a importância deste canal na atualidade e como avalia a adoção e utilização por parte dos operadores nacionais?
 
O digital não é mais uma novidade para o operador nacional. A adoção é praticamente total e, se dúvidas houvessem, a pandemia veio provar que o mercado estava preparado para trabalhar o digital de forma séria. O que vemos são muitos clientes preocupados com o formato vídeo, com as suas redes sociais, com os seus websites próprios, com a sua imagem e experiência de compra no digital. Usando o Standvirtual como exemplo, vemos estratégias digitais pensadas em cima da nossa plataforma através das opções de promoção e publicidade clássicas que temos disponíveis e decisores cada vez mais recetivos a novas soluções como as “feiras digitais” ou o branded content. A importância do canal é enorme e ficará cada vez maior à medida que também cresça a venda à distância, na preferência dos consumidores, que na minha opinião tende a crescer ano após ano.
 

 
Temos observado um discurso cada vez mais focado em desenvolver o perfil analítico dos clientes. Tem como ambição fornecer e contribuir para um mercado cada vez mais baseado em dados?
 
Sem dúvida. Essa é uma das nossas missões. A nossa plataforma gera tanta informação que seria um desperdício não colocar o máximo de dados e indicadores possíveis à disposição dos profissionais. A ferramenta Marketview apresentada oficialmente este ano, em janeiro, no Standvirtual Summit, tem um enorme potencial para o mercado e foi uma grande evolução face ao que disponibilizávamos antes. No entanto, este incentivo não tem só a ver connosco, mas também é uma realidade que alguns profissionais ainda não estão habituados a usar dados de mercado para complementar a sua intuição. Num estudo recente que fizemos com a Marktest e uma amostra de clientes, percebemos que 23% dos entrevistados não quer usar os dados como uma origem para tomar decisões e 15% não usa, mas gostaria de o fazer. Estamos a falar de 38% que toma decisões unicamente através do seu instinto, que embora deva ser valorizado e ouvido, pode ser complementado com informação atual. Para nós é um número demasiado grande para um mercado evoluído como o nosso. Sabemos a importância da análise para o sucesso de uma empresa e, em empresas do mercado automóvel, onde saber comprar é ainda mais importante que saber vender, resta-nos aconselhar o máximo possível para que os nossos clientes possam ter este perfi l e hábito saudável, de conhecer os números, as tendências e as dinâmicas de mercado, para fazerem as melhores decisões possíveis com os recursos que têm.
 

 
A ideia que passa é que o Standvirtual não quer ser apenas um marketplace. Na sua visão, qual é o papel desta marca no mercado nacional?
 
Com quase vinte anos de existência, não podemos ser responsáveis apenas por entregar contactos aos nossos clientes. Isso seria demasiado curto. Temos um papel diferente que passa muito com o que falávamos na pergunta anterior: entregar informação, conhecimento e orientação. É por isso que mesmo sendo uma empresa privada, o Standvirtual entrega tanto valor de forma aberta e gratuita. Temos um livro publicado sobre métricas e vendas que é oferecido a qualquer profi ssional, criamos webinars, entrevistas, eventos, fóruns e debates para falar dos temas da atualidade com os principais protagonistas, temos relatórios mensais, semestrais e anuais, lançamos estudos, temos formações regulares e regionais. Publicamos conteúdos todos os meses e trabalhamos muito perto das associações e dos operadores para compreender o que se passa no país e no mercado automóvel em geral. É assim que vemos a marca no mercado, sempre disponível para trilhar o caminho da inovação.
 

 
Qual é o maior desafi o de estar à frente de uma organização como o Standvirtual, tão relevante e há tantos anos no mercado?
 
A maior difi culdade é sempre na procura do equilíbrio. Sendo uma marca de referência no sector automóvel, tudo o que fazemos é sentido e amplifi cado pelos operadores de retalho e marcas. Este equilíbrio entre a sensibilidade, quer seja em novos ou usados, com o lado dos consumidores, que naturalmente têm algumas necessidades que nem sempre são da preferência dos profi ssionais, é sem dúvida o maior desafi o de trabalhar no Standvirtual.
 

 
Que avaliação faz do papel da ANECRA?
 
É extremamente importante e muito clara a evolução nos últimos anos. Sinto uma ANECRA mais ligada ao sector, mais conhecedora do mercado, com mais dinâmica e com forte intervenção, essencialmente na área do após-venda e no retalho dos usados, que tem contribuindo e dado visibilidade - esta revista é um exemplo disso - a estas áreas, tão importantes para a indústria automóvel. E neste elogio à ANECRA, alargado a todos os funcionários, não posso deixar de destacar o trabalho do Roberto Saavedra Gaspar, que com toda a sua experiência no terreno, trouxe visivelmente uma energia diferente ao papel da associação.


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